ATESTADO DE ÓBITO DE UM AMOR QUE NÃO MORREU (Escrito em maio de 1983)

E ERA MENTIRA!

O que? Como? Por quê?

Todos esses sofrimentos

São conseqüências das horas

De distração que passei

A me iludir com você.

Noite de estágio,

Várias amigas,

Muitas calúnias,

Minha inocência,

Tua incompreensão.

Te afastaste.

Apaga-se a chama,

A mesma chama

Que há dias atrás

Criaste.

A chama da vida,

Da felicidade,

Da ilusão e do fim

Dos meus dissabores.

Mas te afastaste.

E, só tua ausência

Me faz renascer

Tais dores.

Fim de romance.

Já sinto voltando

O eterno momento

Da solidão.

Momento da mágoa,

Do medo de tudo,

Da dor do ser só,

Do amar em vão.

Prolongas tua ira

Em outro ambiente

Mais familiar,

Mais aconchegante.

E rompes com tudo,

E rasgas o verbo

E me esculachas,

Me cospe no rosto

Teu ódio inflamante.

E chegas ao auge

De tua loucura.

E tu me destratas,

Me chama de fraco,

Covarde, corrupto,

Chantageador;

Em tua cegueira

Que o ódio provoca

Nem vês que te choro

Tão singelo amor!

Tu não me dás trégua,

Tu não me dás tempo,

Tu não me dás chance

De me defender;

Somente deplora,

Machuca, maltrata

Alguém que sonhava

Contigo viver.

E fica esquecida

Do que me juraste:

Um amor tão puro,

Tão meigo, tão lindo,

Sofrido, escondido

E tão proibido

Que me dedicaste.

Esqueceste tudo:

As tuas carícias,

Os teus alisados,

As tuas mordidas,

Os teus beliscões;

Esqueceste rápido

Os nossos acochos,

Os nossos encontros

Em ruas desertas,

Como dois ladrões.

Chegou o momento:

Maldade na “cuca”,

Veneno nos lábios,

Você mata tudo,

Você põe um fim.

Você. Só você.

Profana, despreza,

Castiga, condena,

Sem pena de mim.

E eu fico chorando,

Sofrendo, sozinho,

Triste e desprezado

Por ter confiado

No teu fingimento.

Chegou minha vez

De te detratar,

Também te julgar,

De ser violento.

E digo, querida,

Tu nunca me amaste,

Tu só me enganaste,

Tu só me ajudaste

A sofrer bem mais.

Depois disto tudo

Que tu me fizeste

Apenas me deste

Direito de ver-te

Como Satanás.

Mas eu te amo tanto ...

Que mesmo sofrendo

Eu tenho esperanças

De ainda beijar-te,

Beber dos teus lábios

Toda tua ira.

A ira que levas

No teu coração

Que dizia me amar...

E ERA MENTIRA!

Patos, 05.05.83

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 04/07/2008
Código do texto: T1065143
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