CARNAVAL

Um colorido imenso enchia a praça

A alegria reboava nos ares

Enrolava-se pelas ruas

Atapetadas de mascarados e de festas

Não havia distinção de classe

E o mundo naquele dia, parecia dominado também,

Pelas músicas que subiam ao céu

E até o vento gingava nos estandartes,

E nas chuvas de confetes

Que não se mantiam no ar

E pousavam em toda parte

As pessoas estavam alegres,

Via-se um riso em cada boca

E uma expressão de vida em cada gesto,

Em cada modo de ritmo

E em cada pingo de chuva que caia de vez em quando

A multidão embevecida brincava e pulava a cada nota

Indiferente a tudo.

Fugiam do seu eu apressadamente e absorviam

O calor da festa esquecendo-se de tudo

Entregando-se a tudo.

Era carnaval.

Ninguém era de ninguém!

Ninguém ligava ninguém!

E ninguém prestou atenção aquele folião,

Que sequer usava fantasia,

Que trazia no rosto um reflexo de alegria de outro carnaval,

Mas que naquela hora esforçava-se para confundir-se na multidão

E conseguir um pouco de felicidade,

Para o seu coração.

Ninguém notava sequer o jeito desbotado

E os seus passos de dança que mais pareciam

Um caminhar trepidante e sem nexo

Que na multidão procurava um caminho

Que não sabia para onde ia.

Buscando somente, um pouco de esquecimento

E contagio de euforia das pessoas que passavam alegres a pular.

Era simplesmente um pierrô sem fantasia,

Isolado até do mundo, e não somente da algazarra e dos sons

Que se arrastavam, pelas ruas.

E ele se deixava ir

Era um Pierro solitário e triste, em pleno dia de carnaval

No dia que ele nasceu

Era simplesmente um Pierro triste

Mas ninguém o reconhecia ninguém o compreendia

Ninguém podia imaginar que no meio da multidão

O seu pensamento estivesse na distância.

Numa distancia que ele não conhecia o tamanho.

E pensava em alguém que naquela distância toda,

Que naquele momento, talvez não fosse mais que uma colombina

Uma colombina a mais.

E assim foram os três dias.

E o Pierro não sorriu sequer um sorriso sincero

Não dançou um passo certo sequer cantou.

Ele viveu triste três dias em plena alegria a sua volta

Mas ninguém o percebia

Ninguém exceto uma estrelinha

Somente ela o compreendia,

Só ela via duas lágrimas tristes no fundo

Dos seus olhos límpidos, e um suspirar constante

De saudade apertando seu coração em pleno carnaval

Só para você Val que eu amo sinceramente.

Salvador, 17/02/1972

Barret.