ANSEIO...
Como eu esperei uma palavra tua...
Dias tornaram-se noites infindáveis
Sem jamais amanhecer...
Eu te esperei nas curvas dos caminhos,
Eu te espreitei entre as luzes das estrelas
Eu te aguardei nos raios ralos de luar
Em noites onde se escondeu a lua...
Eu te busquei por todas as estradas
Que percorreste um dia...
E eu te antevi sozinho
Ou mal acompanhado...
E chorei...
Minh’alma sofria em silêncio
E a grande noite escondia meu gemido...
Eu esperava, esperava, esperava... e nada vinha de ti!
Tu me condenaste ao silêncio de mil faces
Cada qual mais cruel... E eu te esperei...
Eu não entendi porque te foste
Pois nem ao menos me explicaste...
E, mesmo assim, eu te esperei,
Dia após dia...
Da primavera fez-se logo outono
Vento, chuva, escuridão, tudo cinzento.
E eu continuei te esperando
Escondendo atrás do riso, o pranto...
Quantas vezes passaste por mim
E não me viste!...
Nem ao menos viste a lágrima
E o soluço contido...
Sofrias?... Gostaria de pensar
Que ainda lembravas de mim
Com doçura; mas, talvez, já sem saudade...
Não consegui entender
Nem jamais vou compreender
O que se passou.
Nem ao menos sei
Se ainda és o mesmo!...
Sei que hoje não mais sou
Aquela que fui...
Arrancaste-me do peito
O coração que te amava...
Jogaste-o em um campo
Onde, sob o tropel de cavalos,
Destroçou-se docemente,
Sem reagir,
Sendo dor e dor imensa
Coração esmigalhado
Sob o peso: humilhação...
Solidão...
Silêncio...
Sem jamais ouvir, ao menos,
Uma explicação...
Eu aguardava uma palavra tua...
Faz tanto tempo...
Silêncio...
Dilacerada minh’alma dentro em mim!...
Um dia, porém,
Alguém me viu, me olhou, se condoeu...
Deu-me carinho, cuidado... se compadeceu
De quem tanto havia sofrido sem razão,
Sem dar motivo a tanto desamor.
Olhei. Sorri... Segurei sua mão...
Vi um mundo novo, uma possibilidade,
Um “talvez
Possa ainda ser feliz...”
Calmaria... Aconchego. Amor.
Doçura...
– E agora queres tirar tudo do lugar
e vens dizer-me que ainda estás a amar?...
Volta para onde vieste e sê feliz!
Deixa-me na Paz que eu sempre quis...
Outras mãos afagam a minha cabeça
E outros dedos acariciam meus cabelos!
Outros lábios dão-me vida em beijos!
Que outra te ame, quanto eu te amei,
E outra te queira... como eu te quis!...