Tua Foto


Compadre Lemos.

Nesta fria madrugada de Junho, teu retrato me olha,
envolto no mais completo, no mais absoluto silêncio.
O que me perguntarias agora,
não fosses tu apenas uma foto?

" Onde estão tuas espirituosas palavras?
teu sorriso franco, teu vago cinismo, tua incoerência,
tua pressa, teu tempo largamente desperdiçado,
onde estão? "

" Onde perdestes o último poema escrito?
Onde escondestes tua dor, finamente lavrada em silêncio?
Onde pisas, em que pisas, que não ouço mais teus passos?
Onde, a tua estabanada presença?"

" Para onde olham teus olhos fechados?
Por onde viajas, em teu curto e agitado sono?
Em que pensas? Com o que sonhas? Quando voltarás
de tantas e tão misteriosas ausências?"

" Para onde vais, com quem vais, quando só o teu corpo é meu?
O que te falta aqui, quando aqui estou... e sozinha?
Por que não somos mais, se já fomos um só, de tão unidos?
Mentiram pra mim? Tem fim, então, o amor eterno?"

No silêncio desta fria madrugado de junho,
não mais preciso responder a tais perguntas.
Além de não saber as respostas,
o que vejo em minha frente não passa de uma foto antiga.
Tão antiga quanto a alegria que perdi,
Deus sabe onde!

                                    
Compadre Lemos
Enviado por Compadre Lemos em 24/06/2008
Reeditado em 02/08/2010
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