COBRE-ME O SILÊNCIO...

Cobre-me o silêncio

Escondo-me de mim...

Mantos e mais mantos

Recobrem-me.

Véus...

Ouço ao longe uma cachoeira que canta

Mas estou coberta pela noite

E por seus misteriosos véus de nuvens e de estrelas,

De escuridão e de luar,

De tons azuis e prateados...

Como o pássaro que deixou de cantar

Mesmo tendo os olhos vazados.

Ouço ao longe vozes sonolentas de crianças

E canções de ninar...

Sinto frio.

Muito frio.

Há silêncio nos rumores da noite...

De onde vim era sempre primavera

Surgia sempre um novo amanhecer...

Agora é noite.

De onde eu vim, canções alegres exultavam...

Silêncio...

Apenas silêncio.

Onde está o riso alegre das crianças?

– Absorvido pelo medo e pela noite

Que transforma as sombras em gigantes,

Fantasmas vindos de outras eras.

– Não quero vê-los!!

– Então te encobre no silêncio!

Que tuas lágrimas desçam sem ruído, devagar,

E, mansamente, cheguem até o solo

Para fazê-lo cantar!

Que tuas lágrimas sejam pérolas

Doridas, doloridas, sepulcrais...

E somente quando chorares sangue

E te imolares no seio do Infinito

Sairás do silêncio...

E farás parte do Todo Universal

E Infinito!

Aí irás cantar teus Acalantos e Elegias...

E uma Ode ao Amor; do teu Silêncio,

Apenas ficarão vagas lembranças

Que se dissiparão suavemente

Ante mais um “novo amanhecer...”

Agora o Silêncio te consome.

Cobre-te em dores indizíveis...

Surgem mil indagações ensangüentadas

Entre lágrimas e suspiros de Infinito...

– O silêncio me invade! E me anula!

– Não chores!... Estou aqui... Eu sou Jesus!...