Do primeiro amor
De certo eu amei apenas uma vez,
como se jamais fosse amar outrora...
Meu coração era tão pouco cortês,
naqueles tempos de minha aurora.
Achava a todos tolos e estúpidos,
ria-me por dentro de tantos absurdos,
e executava tantos comentários súbitos
surpreendendo dos pretendentes, os intuitos.
Até que apareceu-me de repente,
como dum raio de um cometa,
algo que me era tão pouco coerente
e tão complexo para minha caneta.
Ah, ilusão? Quem dera...
Até antes fosse pura quimera!
Para eu não manifestar tantos atos,
para não desencadear alguns fatos...
Mas chegou até mim
o frio na barriga, olhar distante,
as pernas bambas, ansiedade...
É, enfim...
Todos aqueles sintomas de praxe.
E ainda diziam-me que o amor tanto nos muda,
isso me era demasiado angustiante,
mas é manifesto absurdamente compensador
que contentei-me em ser um pouco diferente d’antes.