Conseqüências dum castelo de areia
Dar-me-ia um pouco mais de um sonho,
algo mais palpável do que poesia
e do que conflitos, menos enfadonho
para moldar-me apenas um só dia?
Porque o que bem me pareces
é que de um tudo que me ofereces
é apenas areia, rarefeita e rala,
para construir um pobre castelo na praia.
E eu tola em meio aos devaneios
ponho-me a manter as mãos na areia
deixo de mãos os meus anseios
e a construí-lo sou a primeira.
Depois de um tempo considerável
eis que a realidade vem bater-me a porta
e junto dela o olhar inimaginável
das rugas grotescas, agora tão expostas.
Até tive meio dedo de prosa com ela,
certamente ela me alertara antes
mas antigamente o que me era gritante
era o que não vinha da boca dela.
Hoje a minha maturidade,
que tardou em chegar,
faz sala à realidade
que me veio visitar...
E eu não sei o que fazer delas
pois mandam-me tirar as mãos da areia
e ousar sair desta quimera
antes que eu seja a derradeira!
E eu especulo, não sei se aceito ou se nego
pois quem quer destruir o seu castelo,
mesmo que o seu elo
seja material pobre de construção.
*poesia fictícia.