NO TABLADO, O TERCEIRO ATO!

A platéia chega calorosa....ávida por uma nova cena...

Acomodam-se rapidamente como se aquela fosse a última de suas vidas...

As cortinas se abrem.... e no tablado um corpo caído...estendido...inerte...

Um grito de dor ecoa pelo teatro...Ó amado onde estás... porque calas???

Venha... levante-se... sonho meu... não maltrate o que te pertence...

O que se segue é uma inexplicável cena de invasão simultânea de dores...

Corra sua ladra... roubaste a minha vida...

Peguem-na... e tragam-me de volta o que meu peito clama e chora...

Ah... amado...quem te espoliou não fui eu...

Foi o ingrato amor que a mim dedicaste...

Segue-se um silêncio inconfundível de dor... lamentos de cupidos...anjos e querubins...

Torna ao ato... oh ingrato... conspira com a morte a minha grande dor...

No palco... o tablado range... o teatro entristece...

Fecham as cortinas??... que risos... quais dores...trazem estes atores???

A platéia brada... onde está o diretor...

Insanidade e pudor... quanto valor...quanta dor...

Há que se prive-nos de tal favor... Oh bailarina cruel...

O que carregas ó Vênus... o amor e a dor???

Prima...pela cena ó pobre sem valor.... pois que as chamas ardentes te consomem...

Num rasgo de insanidade grita o novo ator...sou eu... o teu mestre...

Que te acalma a alma... minha doce insana... parte do meu corpo... ó intrusa...

Movem-se as cortinas indecisas... não se fecham...e um raio de luz brilha sobre o ator...

Dói .. oh amado meu... o teu riso me corrói a sorte... grita em lágrimas a bailarina...

Quiçá foste tu em meu lugar... a derramar lágrimas de sangue por teu amor...

Suavemente ecoa um lindo lamento do piano... desce ao solo ó nobre dama...

Fisga tu’alma... oh pobre donzela... dê ao norte o teu rumo...

Pois que aqui só terás a morte...

Doce encanto de anjos e demônios... enrijece teu peito valente guerreira...

Tu és leal à minha sorte amada minha... brada o cavalheiro em lágrimas...

Já te vi cantar meu compositor...toca... anima meus olhos pianista...

Que de dor de amor... ninguém se esconde...

Volta ao meu colo minha dama... pobre mulher que meu peito clama...

Vejam... que sorte tenho eu... caído em prantos ... lamento a dor...

A mais triste dor...

Se inquietam nas poltronas a platéia...

A orquestra executa novas serenatas...

Tal as cantadas ao léu nas madrugadas...

Dama e cavalheiro se saciam da dor de amor... cenas ..atos...fatos..

Porquê aqui vieram seus gaiatos...assistir a minha dor...

Grita freneticamente a bailarina... suas entranhas queimam...de amor...

Já não basta o meu peito estar exangue....grita o ator...

E num misto de riso e de dor... chora...

Lágrimas de sangue jorram no tablado... e finaliza-se o seu ato...

O jogo acabou... vencedor foi o amor...que insano profanou...

Mais um ato do acaso e do descaso...dando ao ato nenhum valor...

Mariângela Bharros Moraes – 19/06/2008 – 4:45 – Aracaju/SE

Mhariângela Moraes
Enviado por Mhariângela Moraes em 19/06/2008
Reeditado em 19/06/2011
Código do texto: T1040995
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