Poema 0575 - O beijo
Um beijo caiu sobre a boca sedenta de outra,
são lábios que ainda secos pedem sabor,
poderia ser vencido, mas volta e pede mais,
tantos, que o fogo espalha debaixo das vestes.
É assim a paixão que nos toma,
o amor vem antes com o gosto dos lábios,
o corpo parece revestido de uma sombra quente,
sorri da água, queimas, me queimes com agilidade.
Furo teu corpo onde tem marcas das mãos,
finques teus dentes afiados na pele fina,
mostra-me como lambuzar com o líquido doce,
não deixo que te faltes, deixa que espalhe no rosto.
Volto à fonte na madrugada quase fria,
retiro o nu debaixo do lençol branco,
noto marcas da minha presença muito breve;
antes, beijo-te a boca fechada e adormecida.
Qual luz que nada, preciso apenas do tato,
caminho lento pelo cheiro que exala, excitando-me,
as palavras falam somente aos silêncios,
envolva-me, prendendo com as pernas longas e fortes.
Luzes dão vida às sombras que antes rodeavam a cama,
os corpos entorpecem impregnados pelo gozo,
palavras e pequenos gritos sem nexos são ouvidos,
quero apenas o depois, o êxtase, o êxtase, mais êxtases.
Não te direi nenhuma palavra, apenas te amo,
que amanheça, que o sol venha e seque o suor do corpo,
amanhã volto, não sei a hora, sei a razão,
até que o beijo volte à boca sedenta da outra.
25/01/2006