ALMÍSCAR
Vento alvissareiro,
agita meus cabelos
e me faz recontar a noite:
teu vulto espero.
Um estalo seco
- chicote das horas -
sangra fundo
o tempo da espera.
Açoite profundo
que não estanca a falsa
quietude
dos lábios tesos.
Passos ecoam
no caminho aberto
pelo medo.
Sábio, o coração desenha
sozinho
a saída do novelo
- emaranhado traiçoeiro,
construído e arquitetado
pelo frágil espelho.
Brisa na folhagem,
percebo tua miragem
esgueirar-se furtivamente
nas sombras.
Essência de almíscar selvagem
no ar
- tuas formas
querem-me surpreso.
Te pressinto.
O bálsamo que te banha
o ventre
adivinha-me o segredo.