ALMÍSCAR

Vento alvissareiro,

agita meus cabelos

e me faz recontar a noite:

teu vulto espero.

Um estalo seco

- chicote das horas -

sangra fundo

o tempo da espera.

Açoite profundo

que não estanca a falsa

quietude

dos lábios tesos.

Passos ecoam

no caminho aberto

pelo medo.

Sábio, o coração desenha

sozinho

a saída do novelo

- emaranhado traiçoeiro,

construído e arquitetado

pelo frágil espelho.

Brisa na folhagem,

percebo tua miragem

esgueirar-se furtivamente

nas sombras.

Essência de almíscar selvagem

no ar

- tuas formas

querem-me surpreso.

Te pressinto.

O bálsamo que te banha

o ventre

adivinha-me o segredo.

Flavio Villa Lobos
Enviado por Flavio Villa Lobos em 15/06/2008
Código do texto: T1035177
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