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Decerto quando pouco me atento
para teus inúmeros dilemas cotidianos
tu te derramas em prantos e lamentos
e minha paciência fica te ponderando.
Chama-me para um dedo de prosa,
dedo que sempre há de ser só o teu,
e dia ou outro até traz-me umas rosas
mas esquece do demais que prometeu.
E quando viajamos, toda tua é a viagem,
todos os lugares só são tuas desejáveis visitas,
e eu que não gosto, mal aprecio a paisagem
a raiva é tamanha que dói-me tudo na vista!
E os nossos rotineiros jantares?
Tão pouco me agradam, é tudo a teu gosto,
para ti à mesa só existem manjares
enquanto para mim são mal tira-gostos.
As tuas músicas então, dói-me os nervos
tão mais do que me doem os ouvidos,
são palavras incoerentes, jogadas a ermo
e de que mais alguém aprecie, tanto duvido.
E dos filmes o que dizer?
Tu gostas demasiadamente de ficção
enquanto insiste em escolher
ainda um ou outro de ação.
Nós dois somos incompatíveis, na certa,
pois te observo e vejo meu oposto
e umas vezes penso que me completa,
outras vezes percebo o meu mal gosto.
E tantas vezes a saída gritante
pareceu-me ser te expelir da minha vida
mas tu voltavas todo galante
com pensamentos decorrentes da partida.
E eu, o que fazer se te amo?
Creio que apenas me caiba,
viver ,assim, ponderando...
Nada mais que eu saiba.