QUANDO SETEMBRO VIER
Por que num dia claro,
sol radiante, temperatura cálida,
a melancolia chega de mansinho,
a tristeza bate à porta
e a saudade invade o coração?
Por que o calor do dia
não penetra na pele fria
e aquece a alma enregelada?
Por que, também, num dia cinzento,
friorento, meu ninho se incendeia,
como se fosse candeia,
fazendo-me quente por dentro?
Será que uma certa presença
faria alguma diferença?
Não sei.
Você a meu lado
é tão infrequente,
indolente, impertinente,
incoerente e não se explica.
O ar exterior não se comunica
com o do meu interior.
Vivem à parte e, às vezes,
complementam-se e se entendem.
Hoje, por exemplo,
o dia está lindo.
Meu coração sorrindo
e eu, cheia de graça.
Mas você passa
na minha porta e não bate.
O barulho, do cão que late,
é do vizinho e não o meu.
Mas nada disto afeta
a brincadeira predileta: escrever.
O poeta, que em mim vive,
desperta, canta sorrindo.
Chora mentindo
e depois vai embora.
Deixa, comigo, o calor.
Estou resguardada, num abrigo
à prova de bala, de desprezo.
Comemoro os amigos.
Celebro a vida de hoje e de outrora.
A lembrança me rememora
um dia de inverno, bem gelado:
A neve, lá fora, e nós dois,
aquecidos em casa.
Foi um sonho, realidade?
Mas deixa tanta saudade
guardada no álbum da memória.
Hoje estou contente, coerente.
O dia lá fora, sorridente.
Tudo, em plena harmonia,
transforma-se em melodia,
que inunda meu coração.
Contrastes, semelhanças?
Lembranças de um dia de inverno
que para mim era verão.