Profanas travessuras

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"... eu insisto em cantar

diferente do que eu vi

seja como for, recomeçar

nada há, mas há de vir

me disseram que sonhar

era ingênuo: e daí?..."

(Oswaldo Montenegro)

Quando você vem e me fala do reto

do que em mim já foi tão certo

do torto que já foi tão capenga

como se recriasse a história ou uma lenda

quando você vem e eu te sinto

- pressinto -

e te encontro anônimo entre os conhecidos

entre os que me cercam

mas tão único em meio a tantos destinos

eu vivo e me revivo em você como os que pecam

com a ingenuidade dos que não se importam

com chaves, tamanhos, códigos

como aqueles que apenas comportam

o olhar de amor nos velhos índigos

de chinelos, uma camiseta velha

fazendo o que dá na telha

te sonho de novo e sempre e como sempre

te olho nas fotos novas e antigas

vejo o teu perfil e te recomponho depois e entre

o agora e o que me trouxe em velhas cantigas

nos teus poemas onde eu me via

onde eu te acalentava, índio menino,

nas carícias das palavras em que eu tanto cria

ser possível um amor assim sem freio ou tino

quando você vem, sorrateiro, e me chama

escondido atrás de uma cortina esvoaçante

acende em mim, outra vez, a velha chama

a fogueira dos sonhos, como um velho bacante

instigando travessuras de manhãs e delírios

magentas sangrando brancos lírios

cantigas de cama num desejo que não fenece

e você como um maluco a indagar: que tesão é esse?

e eu, deitada nua na tua loa,

sendo a que sempre, no eterno de mim, te quis

- numa boa -

volto a rir e a brincar de ser feliz.

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