ANTAGONISMOS
Cada oposição minha, nada mais é do que a mais pura sinonímia;
Minhas conquistas são ignomínia; e meu defeito é perfeito;
Ainda que seja tropo designativo sem causa ou efeito, sou metonímia;
Ainda que não a tendo e sendo minha, essa coragem é puro medo!
Nada é mais ensolarado, que a minha invernosa noite;
Sou o lampejo desavisado, da mais tateante escuridão;
Eu sou o não que recusa abrigo, pedindo ao sim que me acoite;
Um litoral deserto, indivisibilidade em forma de fração!
Dissonância manifesta na clarividência harmônica;
A sílaba tônica de meus parágrafos átonos;
Eu sou meus átomos, desprovidos de massa fisionômica;
Explosão atômica, sem física quântica e sem artefatos!
Sou o passeio centrífugo em busca de seu centro;
Um vento que já não sopra, e que a tudo imobiliza;
Quando violento eu sou brisa, quando calmo um armamento;
Eu sou argumento, que a coisa alguma justifica!
Eis que te pede amor, este que te é muito mais do que a si;
A quem o ir, equivale a um estático permanecer;
É ele único real ser, de um suposto inexistir;
Que pelas noites vive a te seduzir, pra que nele sejas amanhecer!!