Caminhada

Sou da noite peregrino,

Caminho só, sem destino,

Não tenho onde morar...

Caminho ao longo da estrada,

Em busca da madrugada,

Que me traga a alvorada

Que há muito, em vão, persigo,

E não consigo encontrar!...

Levo por manto, o tormento;

Por bordão, meu sofrimento;

No bornal, meu pensamento,

Qu'eu solto e deixo correr,

Qual cavalo puro sangue,

De crinas soltas, ao vento,

Correndo p'la pradaria

Numa louca correria

Que não consigo deter...

E quando o dia acontece

E a manhã, enfim, floresce,

Lá longe, atrás da montanha,

Minha alegria é tamanha

Qu'eu quedo-me para ver:

Tanta e tão grande beleza,

Que só mesmo a natureza

Me poderia oferecer...

As searas ondeando,

Trigos loiros, sasonados

De papoilas salpicados,

De um vermelho rutilante,

São pinceladas vibrantes

De um quadro feito: Matisse;

Escuto a brisa que passa

Em seu estranho rumor,

Como se de Orfeu se tratasse

Cantando a Euridisse

As suas trovas de amor.

E na berma do caminho,

Lírios roxos, macerados,

São sofrimentos passados

Por outros pés já pisados...

O ar cheira a rosmaninho,

A jasmim, a alfazema...

A vida é todo um poema

Que me apetece viver!

Edder Storch
Enviado por Edder Storch em 29/05/2008
Código do texto: T1010637
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