A LUTA DO MENINO E SEU CÃO




Era uma manhã nebulosa de fevereiro de 2008,

O tempo marcava as condições nos horizontes,

Cobrindo em pouco tempo todo o espaço,

Na microrregião da Princesa do Sertão.

 

Francenildo, um pequeno menino sertanejo,

Retornando da roça com seus dois amigos,
O primeiro "Leão-do-mar" e a outra a "Pretinha

Trazendo na sacola azul maxixe e quiabo,

Com a mão direita, segurava uma foice nas costas.

 

Não importa por onde o menino andava,

Nas matas, os óculos escuros marcavam,

O outro lado da vida em primazia,

Era o pequeno artista das matas do sertão.

 

Naquele local distante da cidade,

Ouve-se somente o vento e o canto dos pássaros,

Francenildo desfilava nas matas dos cocais,

Com aquele óculos escuro de lentes raladas,

Comprado ao preço de um real.

 

Sentia-se importante ao sair de casa,

Acompanhado por seus dois amigos,

Os dois cães que lhes prestavam ajuda,

Eram grandes companheiros dos passeios e amizades.


Em cada amanhecer a mãe do menino,

Chama as galhinhas todas aos seus pés,

Faz a contagem e joga o milho no chão,

 

Na janela o retrato do Santo Expedito,

E no fundo os dois cachorrinhos,

"Pretinha" e o "Leão-do-mar".

 

São os guardiões dos dois moradores da casinha,

Singela e coberta de palha de babaçu,

Assim, desfrutavam alegrias na caatinga.


Numa certa manhã de chuva torrencial,

O riacho dos Cocos que desemboca,

No imenso Rio Itapecuru, inundou,

Levando tudo pela frente em instantes.
 

Na outra margem do riacho dos Cocos,

Lá estava a cachorrinha Pretinha,

Agonizando com as patas nas correntezas,

Enfurecidas e loucas desciam adentro.





Era um turbilhão de águas insanas,

Descendo em altas velocidades,

Com barulhos estarrecedores.



O menino já havia passado pela barragem,

Com o outro cãozinho Leão-do-mar,

Prontamente, aguardava do outro lado a Pretinha,

Esta, por sua vez, observando a correnteza - latia, latia...
Com receio de atravessar, ficava irrequieta.

 

Suas patas não venciam a força das águas,

Arrastada entre os pedregulhos,

Desceu na enxurrada o cãozinho,

Que rebatia contra a força da natureza.


 

Descia pelos barrancos o menino,

Apressado e assustado gritava,

O Leão-do-mar agitado e nervoso,

Percorria as beiras do riacho,

Latia desesperadamente, 
Olhando para o guri.

 

Pedindo para salvar o seu amiguinho,

Porém, as águas nada obedeciam,

E o garoto chamava entre as ondas:

-Pretinha! Pretinha! Vem Pretinha!


 

As águas em rebuliço não davam chances,

Nem mesmo podia pular entre as correntezas,

Que pela frente tudo destruía,

Eram duas barragens ali construídas,
Numa distância com mais de trezentos metros cada uma.



O garoto corria entre os penhascos,

Atrás de seus passos percorriam a tristeza,

E a esperança de salvar o seu cachorrinho,

O garoto descia a ribanceira,

Fitava os olhos nas águas avermelhadas,

Na esperança de ver pelo menos a Pretinha.

 

 


A barulheira no Riacho dos Cocos,

Espantavam até os pássaros como o Martim Pescador,

E o camaleão rasteiro subia apressadamente nas árvores,
Enquanto o caudaloso riacho enchia as suas margens.



Os olhos perdidos naquelas águas insanas,

Não davam trégua ao pequenino,

Assustado e temeroso não se cansava,

Era uma busca improvável. 

O impulso das águas jorrava sem cessar,

Corria o menino para outros lugares,

Atravessava o lamaçal que se formavam,

Aguardando a querida Pretinha passar.



O tempo era inimigo naquela hora,

O volume de águas aumentavam nas laterais,

Gritava o garoto sem cessar no matagal,

-Pretinha! Pretinha! Vem Pretinha!

Arvores caiam juntamente com as palmeiras,

Tudo, tudo era tragado pelo riacho,

Parecia muito mais que um riachão,

Louco e tão desvairado e tudo arrebentava.



O cachorrinho Leão-do-Mar,

Cansado de tanto latir ainda teve forças para atravessar,

Uma ilhota que se formava logo abaixo,

Lançou-se nas águas no aconchego da criança,

Ali, os dois abraçados nos laços da perdição,

Olhavam a malvadeza das águas,

Que arrastaram sem piedade a boa Pretinha.

As lágrimas do garoto percorriam a face,
O cão Leão do Mar apenas sentia,
O abraço e o consolo do menino.

Agora não restavam mais esperanças,

Apenas o sentimento e o silencio dos olhos,

Aguardando, ainda naquela ilhota,

Pelo menos algum vestígio da Pretinha.

 

No outro dia quando baixaram as águas,

Podia se ver a completa destruição das barragens,


E nenhum sinal da cachorrinha Pretinha,

Somente as lembranças do seu fiel amigo,
Deixadas nas correntezas do Riacho dos Cocos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 21/04/2008
Reeditado em 20/09/2011
Código do texto: T955720
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