À MINHA AMIGA
Eu tenho um jeito todo sem jeito de dizer que a amo.
E não tenho por você qualquer paixão
que seja menor que a maior do mundo.
Não tenho de todo o tempo austera noção
Se três horas e meia com você me parecem metade de um segundo.
Nem tenho interesse de versar como todos versam...
Nunca quis versar e ser igual a todos
Em ser diferente quis sempre também amar os diversos.
Os diversos dos outros e os diversos de mim.
Eis o motivo por que a amo e não tanto a mim mesmo.
Eu sou quem procura em tudo a explicação
E me satisfaço plenamente se não sei e sou amado
Por vezes me contradigo e, sempre, a todos em meu lado.
Tenho em mim a lembrança das primícias, de todo o sobredito
Sei lhe dizer que odeio; declaro-me ao dizer-lhe o que me é bonito.
Pra mim a beleza é primordial.
A beleza pendular do limiar da dúvida, a beleza que não existe,
A que nunca tenho em mente a priori, mas que a surpresa me impõe.
A surpresa pra mim é o capitólio da beleza
Mas isso não explica eu amar A Mesma Mulher todo dia...
E doravante pretendo amar-lhe deliberadamente
Não como amo Aquela, mas como que mais voluntariamente.
Porém, antes, toda a sua pessoa me obriga a estar apaixonado.
Milena e a sua maneira instintiva de dar um abraço
E a ojeriza de me ver sem carinho.
Menina de tantas meninices e outras tantas idades
Disposição, amores, predileções e responsabilidades.
Mãe de si mesmo, menina que acredita no etéreo!
Tão concreto, tão próximo, tão distante, em mistério...
E eu com minha melancolia e meus números.
Que não sabe me dizer o que me quer provar,
Mas que deixa transparecer que me ama muito.
Moça que toma minha mão como papel qualquer
Para então desferir todo o poder nos riscos
E minha visão de atenção é só viagem a entender de tudo rabiscos...
Contei da meiguice inexplicável que vejo Naquela pessoa
E de quanto acredito que, no fundo, assim ela seja
E que me ame tanto quanto eu por Ela tenho amor
Tomei conta da conversa como dos versos
A falar sobre o que eu sinto com a perda Dela, toda a minha dor.
Seus ouvidos suportam toda a pressão de minhas lágrimas
E toda minha sinceridade derramada em uma só pessoa
Faz de você o meu oráculo e eu não estou disposto a deixá-la ir...
Se me fosse possível a prendia na estação
E tomava posse da minha busca de menina e de sorriso e de vertigem.
Eu tenho como você mil coisas a resolver.
E tenho, além, atribuições que eu mesmo crio pra me ocupar
Pois, em nenhuma hipótese rio, se sorrio antes quero chorar
Preciso dez mil vezes do seu abraço e de beijos isso ao quadrado
Em curto espaço de tempo com a mensura do ponto, adimensional.
(título original: Mi Lena)