PORRE
Segui nessa noite de táxi para bar antigo
sento-me junto ao que me espera, velho amigo
que abraça com carinho no seu conhecido calor
me olha, não pergunta, sabe dos meus olhos a dor
Vem a moça-sorriso que serve, de nós se aproxima
ela me vê e seu olhar se entristece no clima
ao pedido de cerveja não sorri como sempre
diz "mundo injusto" e toca meu ombro levemente
O alemão dono do bar meneia a cabeça
afirmando no modo que notou a minha presença
na falta do meu sorriso, nota minha tristeza
respeitando, não se aproxima da minha mesa
O amigo me conhece bem, apenas faz companhia
comunga comigo bebida sorvida, amiga fria
me considera e não disfarça a dor com piada
e me acompanha, não procura dissimular nada
Usamos expressões curtas, que fazem o diálogo
a perícia mostra meu desejo: ficar de fogo
pausas, mais pausas, para goles e mais goles
juntas, cada dupla de doses promove várias proles
Penso triste, enquanto garrafas e copos vão e vêm
no intenso, não dispenso, quero indispensável bem
respondo sim, claro, quero, espero, que vai melhorar
a cada fala, o amigo sincero no compartilhar
Embriagado, mas menos que a paixão sentida
cambaleante, mas menos que a saudade vivida
atordoado, mas menos que pelo desprezo jogado
no apoio amigo ao ex-lar sou levado
Fui desmaiar no sofá e adormecer sozinho
sonhar com ela pelos menos sussurrando um carinho
mas acordei na realidade da ausência
e nesta ressaca que me envolveu sem clemência.
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