Para uma amiga triste

ÀS vezes, ficas assim.

Quieta.

Calada.

Mastigando as palavras.

Engolindo as raivas.

Nem sequer consegues ver aquele raio de sol,

que já te espera ao virar da esquina.

Ficas assim.

Balançando o cigarro entre os dedos.

Inspirando silêncios.

Exalando mágoas.

Se calhar nem sentes a maresia, que já salpica teu rosto.

Querias poder fechar os olhos, eu sei.

Sair daqui.

Querias gritar.

Mas não podes.

Disso também eu sei.

E vais continuando.

Sempre quieta e calada.

Talvez sorrindo...

Quem sabe se chorando debruçada sobre o volante do carro,

sonhando o leito íntimo de um qualquer areal.

Chamam-te.

Chamam-te de novo.

Continuam a chamar-te.

Mas tu não queres ou tu não podes responder.

Sentes-te serva.

Prisioneira.

Enclausurada no teu mundo de desilusão.

Eu sei tanto disso.

Ai, como sei...

Não fiques triste, amiga.

Sabes?...

Amanhã começa a Primavera.

Os bolbos já se agitam sob a terra!

As andorinhas já deixaram o Egipto!

E dessa tristeza há-de renascer um novo Amor!

Clotilde S
Enviado por Clotilde S em 01/03/2008
Código do texto: T882539
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