Amizades que passam, passam...
Os amigos se perdem no caminho
como a gente vaga pela vida.
São passos vagos e lamacentos
num bosque semirreal:
protótipo de fantasia medieval
plastificando como o amor
o cume das incertezas.
Amizades são para mim a cama
onde repousamos a carne
e ativamos o espírito,
donde o interior de nossa criança
acorda para sonhar leveza.
Sinto a paz da amizade vagar
em lume de esperança aguada;
é esperança contínua
e penosa de que tudo é pesadelo:
briga, afastamento, vida adulta…
Tudo enrijece em susto bruto
das coisas concretas.
A vida é matéria de enxofre sutil:
nos dias de mais alegria é
também sobre arrebatamento demoníaco.
Gárgulas que nos entristecem,
alguns celestes amigos ficam,
mas a grande maioria desaparece.
Gosto das pessoas
como gosto do cheiro do amor.
Lírios são vidas, apesar
da melancolia peçonhenta.
Acostumei com a solidez
da impermanência;
ora, é por respirar o amor
que a fragrância passageira
passa e sinto vocês.