A uma indigente

E aquela menina que vi passar,

Na manhã fina de sol escaldante

Tão feia, cujo traje que surpreende

O mais rústico ser da nossa terra.

Uma calça de abrigo, todo encardido,

Que por emendas cobria suas pernas,

Tão rarefeito e desbotado era seu linho,

Supostamente uma peça usada da infância

Que sobrevivera em seu corpo mal crescido.

Uma camisola não menos cafona,

Cobria a pele morena da menina.

Desajeitada, suja e maltratada

Como os pombos daquela praça;

Ostentava os sapatinhos úmidos, em grossos defeitos,

Em pés não mais nobres do que os de uma pedinte;

Ao menos combinavam com o marrom da lama

Em que ela despreocupada muitas vezes pisara.

Ao seu lado, o pai da feia moça,

Um homem tanto quanto rude,

Levantou-se, e num breve assovio,

Chamou-a, como se chama a um cão.

Foi então que flagrei, no alto da moça,

Os cabelos castanhos que corriam pela nuca,

E entre eles dois olhos, verdes como a Esmeralda,

Tais duas estrelas de um mundo mágico.

Tinham o brilho fosco, sintomas de tédio,

E de sofrimentos suportados sem mágoas.

De certo perguntava-se, quando via as ricas jovens,

Se sua beleza não seria completa,

Caso tivesse a fortuna delas.

Assim, nossa moça invejava as ricas passantes,

Pelas belas joias e pelas roupas caras,

Enquanto qualquer ser que visse aquele anjo torto,

Haveria de invejar-lhe tão natural beleza;

E numa indiferença, só presente em tais almas

Acostumadas aos maus tratos da vida

Saiu sem dar-se com os meus espantados olhos;

Duas pérolas refletindo a luz do sol,

Como raios se refletem em águas cristalinas.

Pasquali
Enviado por Pasquali em 13/07/2024
Reeditado em 23/10/2024
Código do texto: T8106090
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