Mery Onírica
A nega poeta
A nega sente na pele apenas o abraço do seu leitor
Não há mais o belisco no braço
Há lágrimas nas faces de alguém
Que seca o cisco dos seus olhos
A Nega é o orgulho da Vila Vintém
Não há mais açoites na noite
Existem somente ledices
É o sentimento do cumprimento
Das coisas escritas sem lei
O chão era lauda na sua infância
A fralda de sua criança
A letrar sua história
E a criar em sua memória cenas na arena da vida
O graveto sem ponta ferida
Riscou na terra o seu pensamento
Que o vento tentou levar
Mas as marcas ficaram e se tornaram letras
Hoje, a terra é boa de plantar
A Nega é poeta
Ela letra, ela peta
Como dizia um tal de Pessoa