Envolvido por um poemeuzinho de ZéMaria Madureira
Em resposta ao seu desabafo poético,
onde a tristeza se desfaz no etéreo,
encontro-me num limiar de reflexão,
onde cada palavra é um espelho de emoção.
A noite escura
me acolheu com seu manto,
e na escuridão, busquei o acalanto.
A cidade, um labirinto de sombras e luzes,
onde cada passo parece conduzirmos cruzes.
Mas, na simplicidade de um gesto, um desvio,
uma fuga das amarras do próprio cativeiro.
A música de um bar, um sorriso passageiro,
na mesa, a cachaça renova o antigo brio.
E num livro de poesias, companheiras silenciosas,
revelam-se mundos, verdades dolorosas.
Mas, entre linhas, uma esperança se esconde,
um fio de luz na escuridão profunde.
A arte, refúgio dos corações errantes,
pincela cores vivas em dias inquietantes.
Um quadro, uma foto, uma melodia,
trazem de volta a perdida alegria.
Nas pequenas coisas, a redenção se desenha,
na beleza efêmera da flor que se apanha.
No aroma do pão, na risada da criança,
na dança da chuva, na renovada esperança.
E assim, passo a passo, a vida se reconstrói,
nos detalhes miúdos, o espírito se reboça.
Não na euforia dos grandes feitos,
mas na quietude dos momentos perfeitos.
Por fim, na partilha desse seu "poemeuzinho",
encontro um espelho para o meu caminho.
Na poesia, a dor se torna menos severa,
e na partilha, a alma, enfim, se liberta.
12.04.2024
Segue abaixo o poema do ZéMaria, com o qual o meu dialógo:
A quinta se me chegou acinzentada, abafada como blusa cacharrel, sufocando-me não apenas o pescoço, mas também a alma. Desde as primeiras horas, um insensato humor ingrato brincava com meu ser e nada se me prestava, nem mesmo as favas dos olhos dela. Abri o portão e me joguei no mundo! No torpor da rua, lancei olhos de observador, fisguei imagens insustentáveis e fui retirando, aos poucos, pesos noturnos de dentro de mim, atirando-os a esmo nas calçadas antigas da velha cidade. Não suportei minha tristeza e afoguei-a com este paupérrimo poemeuzinho, cerveja e cachaça. Não tem graça nenhuma, não é memo? Mas já estou melhor, viu!
Redenção onírica
Não sei por que acordei azedo!
Os chinelos serviam-me mal,
o banheiro quedava-se mudo,
o café não me apetecia,
o cigarro se desfazia sem prazer,
a casa ressonava tristeza,
o dia se me amargava sem tinturas.
Se sonhos os tive,
não os sei,
mas as vistas estavam feridas,
talvez por uma luta desvalida,
os dedos escafelados,
quiçá por armas mal empunhadas,
o coração em pandarecos,
o corpo mortiço,
a vida por um trisco,
um risco – linha delgada de aranha.
As ruas estavam machucadas,
os automóveis em eterna procissão,
nos lotações,
o povo apinhado,
agarrado à sorte,
com a quentinha nas mãos.
Pessoas desfeiçoadas passeavam
nos aéreos passeios arenosos,
guiados por seus cães,
absortos,
bem vestidos, mas rotos de coração.
Neste sortilégio,
desfiz-me da má sorte,
não tive outra opção,
entrei na primeira porta,
pedi cerveja e um tira,
bebi uma marvada caipira,
estalei a língua com sofreguidão,
e a vida se me ficou,
não alegre,
mas com um novo sentido.
Zemaria Madureira