SOU UM VIRA-LATA
Não tenho nenhuma raça definida
Muito menos tenho o tal pedigree
Minha genealogia não é conhecida
Nem mesmo sei onde foi que nasci.
Sou preto com branco no peito
Sou branco com detalhes pretos
Pequeno ou grande e de todo jeito
De olhos lindos e dentes perfeitos.
Sou acinzentado, marrom, caramelo
Sou assustado, amigo, bravo, bonzinho
Sou cacheado, sou peludo, sou belo
Tenho rabo inteiro ou cortado, curtinho.
Minhas pernas são curtas ou compridas
Tenho todas, menos uma ou só duas
Minha vida pode ser boa ou muito sofrida
Tenho casa e conforto ou vivo nas ruas.
Tenho comida boa ou procuro no lixão
Às vezes tenho água, às vezes passo sede
Dependo da sorte ou dependo de atenção
Noites durmo no chão, outras durmo na rede.
Tenho sentimentos e sou muito inteligente
Nem melhor nem pior que animal de raça
Quase sempre sociável, eu gosto de gente
E continuo a gostar, mesmo que mal me faça.
Porém ninguém me compra na loja ou canil
Geralmente eu escolho alguém pra cativar
Eu balancei o rabo e então ele me sorriu
Ali nasceu a amizade e eu ganhei um bom lar.
Finjo que cuido da casa quando o dono sai
Como, bebo, brinco, faço cocô e muito xixi
Cochilando, latindo... Espero por meu pai
Quando ele retorna, pulo, faço festa e ele ri.
Onde sou bem tratado e recebo carinho
Não existe tristeza que dure muito tempo
Alegro a família e ninguém se sente sozinho
Lambo um, levanto a pata e depois me sento.
Mas na rua também encontro gente decente
Uma mão amiga me traz comida e um afago
Ou cuida de mim quando me encontro doente
Socorre-me se, por desventura, sou atropelado.
Quem dera o dono daquele animal tão caro
Pudesse também adotar um animal abandonado
Quem dera o ricaço nos desse um bom amparo
E diminuísse o número dos mal alimentados.
Quem dera todas as pessoas fizessem sua parte
Cuidassem bem de seu animal de estimação
Creio que é abençoado quem afeto reparte
E não veríamos bichinhos em lastimável situação.
Fazer o bem ao animal não é nenhum sacrifício
Mas dá satisfação e prazer ver a alegria do outro
Que agradece balançando o rabo pelo tal benefício
E alegre, corre pulando, sorrindo, feliz, livre e solto.
Aberio Christe