A UM COLEGA ME LEMBRANDO
A um colega me lembrando
digo que quando tive meu
primeiro emprego já sonhava
e estudava para ser escritor.
Este colega a quem me
dirijo, pessoalmente não
tive a honra, mas digo,
eu comecei num escritório,
bem mais confortável que
o cabo da enxada. Mas
sofri, senão pelo esforço,
pela intriga que há
no meio burocrático,
diziam que eu era
maluco: um escriturário
não podia ser poeta,
contista, nem cronista.
E eis-me aqui hoje,
e naquela época a leitura
que consumíamos eu e
meus poucos amigos
que sonhávamos era a
que defendia os lavradores,
e outros trabalhadores
braçais. A este colega
me lembrando confesso
em público: eis nós dois
hoje aqui escrevendo.