Nosso idioma particular
Dentro das verdes e brancas paredes
Do condomínio que nos abrigava
Construímos a fundação do que seria
Nosso próprio mundo
Tudo dentro dos limites
Que uma criatividade juvenil
Pudesse chegar
Cultivamos nossa imortalidade
Não deixamos palavras de fora entrar
E ditar nossas brincadeiras
Escolhemos as nossas próprias palavras
Nossas própria paleta de cores
Tornamo-nos reis de nosso condomínio
Ao criarmos nosso próprio
Idioma particular
Nosso código secreto
Depósito de nossas memórias
Mensageiro de sonhos
Ponte palpável, porém
Translúcida para os demais
Nos escondemos do exterior
Mesmo estando visíveis
Aos olhos dos moradores
As fortificações do condomínio
Sucumbiram e viraram farelos
Fajutos fadados ao farewell
Fomos expostos ao hostil mundo
E aos seus afiados acúleos
Fugitivos da mediocridade
Entregues à incompatibilidade
Endurecer da idade
Despedida da infinidade
Quando sentimos a necessidade
De desaparecer
Apenas nos encontramos
Não importa o lugar
E voltamos a conversar
Com o nosso idioma
Desta vez, seremos invisíveis
Para tudo e todos
Usaremos letras, vogais
Consoantes e sílabas
Criadas por nós
Entendidas somente por nós
A fim de preservar
Os reflexos que não queremos
Largar e as memórias
Que não queremos abandonar