Poema para o meu amigo D.
Você sucumbiu à sua própria perdição.
Você se perdeu em seus próprios devaneios
Todas as vezes que esmurrou o próprio peito
Bradando por tua autossuficiência
Golpeaste com ímpeto sua própria consciência.
Consciência de si
Consciência do nada.
Tudo o que somos não passa de fragmento dos nossos sonhos.
A lógica, o suspiro, o sorriso, o vômito.
O adeus, o desespero, a solidão, o incômodo.
Já dizia o sábio filósofo: "Tudo se vai na torrente do tempo".
As noites em que navegamos, ébrios, na imensidão de uma juventude imagética.
Vagando pelas noites
Almas penadas que arrastavam as correntes da nossa própria concepção estética.
Almejávamos a liberdade.
Mas liberdade custa caro.
Custa coragem, compromisso, responsabilidade.
No fim, liberdade é uma mentira, meu amigo.
Somos escravos das nossas próprias pulsões.
Escravos do nosso próprio universo intangível do ser sem ter.
O ter é também é uma mentira!
São muros construídos para dilapidar os egocentrismos.
O ser também é uma mentira, meu amigo!
É uma construção ontológica dessensibilizada que destrói as nossas pontes.
Que nos separa,
Nos intriga,
Nos petrifica,
Egoísticamente nos individualiza.
Viver é caminhar errante sobre as areias movediças da nossa própria estupidez.
Tudo o que construímos, um dia será engolido pelas ondas do não-ser.
Não penses que eu vim te julgar, meu caro amigo!
Apenas compreendi que no teatro da existência, somos apenas os palhaços.
Desgalardoados, eternos condenados a representar os papéis que nos foram designados pelas circunstâncias.
A vida pode ser estupidificante e angustiante.
Mas temos espectadores que precisam passar pelas pontes que pavimentamos para a nossa representação em comum.
Até que nos venha a iminente morte e o não-ser ser assuma o picadeiro da saudade e das lembranças.