Dois

Eu, montinho de tijolos com pretensão a casa

Tu, a invenção das palavras

Eu, o papel envelhecido dos mapas que usaram pra rasgar os mares, planificar as terras.

Tu, uma mata virgem, que nunca foi, nem vai ser achada

Eu, aquele drink com vodka meio aguado, que desce ruim.

Tu, uma coisa assim, frutada, doce, hidromel

Eu, aquele nome escrito errado, dito, redito, e soletrado pra atendente, que sempre vai franzir o cenho quando ouvir o maldito fonema difícil.

Tu, uma coisa reconhecível e linda, Brasil e mistério, simples-complexo. Aquele gesto ou olhar que, de tão certo, não pede repetição.

Eu, uma criança com bolsos cheios de bala de iogurte, roubados

Tu, morangos silvestres, colhidos a mão.

Eu, aquele solo do mestrinho na sanfona que me fez lagrimar, aquela poesia dita por Bethânia, aquela vez que quase morri afogado, ou que um doido me abordou na rua pra contar teoria absurda.

Tu...

tu...

Ah, nem sei mais.