Amigo de fé

Amigo de fé

4º lugar no 1º C. N. P. Boleversos – março de 1999\

Quando a Vida me deu a rasteira

Talvez por minha própria falha

Ninguém me prestou um auxílio

Nem moveu uma única palha.

Perdi o emprego, perdi a família

Tentaram levar minha dignidade

Já não tenho mais residência

Durmo em praças da cidade.

Certamente sou um andarilho

Seguindo o rumo da perdição

Apesar de ser maltrapilho

Nunca fui chamado de ladrão.

Os que se chamam de humanos

E viram as costas para mim

Esquecem que a Vida é curta

E estaremos bem juntos no fim.

Apesar de tantos problemas

Que já não me fazem chorar

Ainda consigo juntar forças

E por todos aqueles rezar.

Dentro desta vida sofrida

Finalmente achei a verdade

Nestas horas de desespero

Encontrei a real amizade.

Nos dias em que a solidão

Me quedou num tombo forte

Julguei já estar derrotado

Cheguei a convocar a Morte.

Mas a força de seu olhar

De pé no asfalto, calado

Me deu a enorme certeza :

Ter um amigo ao meu lado.

Unimos os nossos destinos

Apreciando o Sol e a Lua

Sem rumo, sem casa, com amor

Nos sentimos os donos da rua.

Empurrando nosso carrinho

Trepidando ferros e latas

De dia procuramos comida

à noite deitamos as patas.

Chegando ao fundo do poço

A ganância não existe mais

Todos se unem fervorosos

Buscando um pouco de paz.

Com meu companheiro divido

O pouco resto que ainda resta

Porque em nossa vida atual

Até jiló é motivo de festa.

Quando o desespero retornar

Não vou gritar por socorro

Pois sempre conto com você

Meu grande amigo cachorro.

Haroldo
Enviado por Haroldo em 27/11/2005
Código do texto: T77034