Afeto contingencial; ou Amores, amores, amigos à parte.
“O preço do amor é o luto; baita promoção”,
o que, à primeira vista, pode até parecer poesia,
mas fato é que só narcisista vive de transação,
e a quantificação do afeto deveria é ser tratada como heresia.
Não falo mais então nesse aspecto da barganha:
amor se paga com luto? Sim. Mas promoção de verdade é a herança.
Propriedades amigas cheias de manha,
e bens imateriais encharcados de esperança.
No juizado de causas maiores a partilha do sentir é, pois, anunciada:
sem inventário e sem porcentagem, a lei diz apenas: contingência.
Quem chegar primeiro fala, e tem a causa dada,
quem se atrasa ou se afasta, paciência.
Nada mais justo, afinal terra improdutiva deve ser ocupada.
Não importa que o possuinte não are nem regue, ou que nunca construa um curral.
Só de estar ali contingente e plantando sementes já germinadas,
a presença vence qualquer agricultura virtual.
Isso não é uma reclamação e menos ainda um lamento;
brigar por terras amigas sem a possibilidade de cuidar delas é egoísmo.
Prefiro a “rasidade” do virtual com ocasionais tangências de momento,
que uma política de terra arrasada implementada por um narciso-casuísmo.