Da minha janela
Ainda não disse
nem a metade do que desejo dizer.
Deixa ver,
deixa fazer melhor sombra
que continuo com o meu discurso.
O sol está quente,
faz calor
e o vento resolveu fazer greve.
É grave, muito grave toda essa situação.
Você não busca solução,
gostou de parar no nada
e tecer devaneios nas pedras
do caminho.
Cansei, nem quero dizer.
O problema é seu,
faça bom proveito dele,
embale para presente
ou embale nos seus braços
até a próxima estação,
quem sabe assim
a mudança de clima seja um machado apto
a rachar sua cabeça em partes
e cortar o mal pela raiz.
Eu preciso ficar aqui,
beber esse ponche,
abotoar os botões da felicidades regando essas flores da minha vidraça.
Não quero jogar pedras
já que tenho esse teto de vidro,
mas também não quero esse castigo de passar pano para você.
Também não quero dar nem vender conselhos,
se isso fosse bom,
o mundo não teria estampa nem diversidade.
Ai, as andorinhas,
como são lindas.
Elas me inclinam a dedilhar a vida como se fosse música.
Gosto das melodias.
Gosto desse olhar de espanto,
do compasso do tango e do samba.
Enquanto sambo aqui,
você fica com essa cara de desgosto olhando para mim.
A vida não se resolve assim,
já disse,
não quero ser repetitivo.
Melhor mesmo eu cuidar de enxaguar essa roupa lavada
porque a água já está mudando de cor.
Existe um olor nessa conversa
sem graça entre a gente,
algo me deixa descontente demais porque não quero dizer,
não vou mais dizer
o que tem que ser.
Para quem tem ouvido de mercador, nenhuma palavra soa como se fosse verdade para si.
Vai, corre até aquele outro lado da rua, veja se sua vida ainda permanece estendida
naquele varal
ou jogada no quarador.
Já terminei de abotoar os botões,
não quero mais dizer nada,
não vou dizer.
Marcus Vinicius