O som das pedras
Quis escrever um poema
Que me pudesse desafiar
Um poema
No qual fosse incapaz de rimar
Comecei pelo título
Onde tentei por as pedras a falar
Falhei
Porque o som que elas tinham
Não eram palavras
É o som que elas fazem ao quebrar
Imaginei então
Que nós os dois eramos duas pedras
E imaginei
As nossas conversas
Em vão:
Ficámos os dois em silêncio
Um para o outro a olhar
Porque sabíamos
Que as pedras não podiam falar
Deixei então de lado
A pouca ambição literária
Que em mim ainda lutava para se afirmar
Porque as palavras em mim nascem
E começam logo a rimar
O poema falhou
Por isso decidi ir escrever outra coisa qualquer
Que te pudesse agradar
Deixando as pedras e o seu som
Bem à mão
Para que as pudesse usar
Contra a divina inspiração
Que quando mais preciso dela
É a altura em que ela decide me abandonar