A TERTÚLIA DA AMIZADE
“No Solar da Azambuja”
Em convívios e encontros informais
Sempre que haja uma oportunidade,
Por razões importantes ou triviais
Soltemos, sadiamente, nossa amizade.
Num mundo tão agreste, assaz selvagem,
No qual imperam lucros e interesses,
Importa privilegiar, entre mil benesses,
Os laços de amizade e camaradagem.
Assim fazem os amigos da Azambuja,
Para o desanuviar das banalidades
Do rengue-rengue diário qu´ amaruja,
Matando assim as hodiernas saudades…
Numa arejada e familiar mansão
Onde dá gosto estar e permanecer
C´ os necessários meios pra conviver
Sob a batuta do nobre Anfitrião.
Os “sete”, que já são «Dez da vida airada»,
Com todo o merecimento propiciaram
Uma alegre Tertúlia aprimorada
Com tordos e javali, que eles caçaram:
O Alves, o Frassino, o Diogo e o Valdir,
Saraiva, Adérito, Verdugo e Zé Luís,
Miguel – o sempre a entrar e a sair –
E o distinto e insubstituível Cação.
Maestro a presidir, avental ´sverdeado –
Estranha coincidência, se repararam,
Já que todo ele professa d´ encarnado –
E o chefe Zé Luís confecionaram
Belos grelhados, tordos e javali,
Bons grelos – estes sim, esverdeados –
Por frescos vinhos bem acompanhados,
Que o Saraiva arranjou, aqui e ali…
A propósito, Alves o exímio caçador,
Fez questão de relembrar a diabrura
Do seu rafeiro Dick, o promissor
Qu´ ele pôs, por reles mira, em desventura…
Valeu-lhe o solidário e brioso Adérito
Que com ele fez das tripas-coração
Dando ao pobre rafeiro a salvação,
Pergunta-se: dos dois, quem teve o mérito?
Voltando à vaca-fria, sem desprimor
Prás boas iguarias aqui presentes,
Tudo esteve cinco estrelas e bom sabor
Ficando os comensais mui bem contentes.
O bom ambiente, que Valdir enriqueceu
Com mornas e baladas da velha guarda,
(E outras modas que advieram em barda)
Como um bom animador de terra e céu.
Por falar em memórias, contou o trovador
Que o seu Mike de afeição era um relicário,
De gestos e atitudes e bom humor,
Virando os vis humanos ao contrário…
Pra não deixar os dotes por seara alheia,
Eu, Frassino, também lá dei um toque,
Levando, à laia e coro, tudo a reboque
C´ o “Bocage Sonhador” – que fixe ideia!
Neste, entretanto, entrou na sala a Nina,
De Miguel, ´sperto animal de eleição,
Com ares de uma brisa vespertina,
Que logo pôs o ambiente em convulsão…
Chegou a hora do Verdugo, e do Diogo,
Juntamente c´ o velho reitor Saraiva,
De inquirir se há ou não perigo de raiva
Ficando a pulga a bailar naquele jogo.
Houve deliciosas frutas e bons queijos,
Com finos digestivos e bom café,
Tudo isto espicaçado por desejos,
Servindo-se memórias de marcha à ré.
Pra Verdugo e Zé Luís soaram loas,
P´ las confecções e cómodas serventias,
Voaram anedotas, selfs e magias
E bem-hajas por aquelas coisas boas.
Ele há Tertúlias, há, bem o sabemos,
De poesia, de música e de bom viver,
Mas, como esta, dificilmente veremos
A não ser com os mesmos, se as houver…
Não consta que, todavia, sejamos santos
Nem pretendemos ensinar ninguém
Mas… dar as mãos é sempre o melhor bem
Pois, nesta «arte de viver», há mil encantos!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA