Hora Do Amigo

- Olá, meu amigo,

Diz-me aí, eu rogo.

O que há contigo,

Falando: Até logo?

- Nada que acusa,

Mas, par d’águas.

No pouco afunda,

Amanhã mágoas.

- Oh, qual mistério!

Cadê o seu sorriso?

Igual um cemitério,

Não olá, não aviso!

- Não ligues amigo,

Só tenho a te dizer:

Traidor é maligno,

Ter sede, é morrer.

Mas ante ao perigo,

No escuro, há fenda,

Bem fora eu consigo,

Ouvir-me sem teima.

- É de grave assunto,

Que corrói seu saber?

O que parece muito,

O receio, sem haver!

Podendo eu lhe ajudar,

Estarei ao seu contento,

Serei fogo, a queimar,

Rastros se for tormento.

Chega-te, mais perto,

Deguste um trago,

Se acomode e liberto,

Faz-me o seu lago.

Qual é de causa,

Por que canta adeus?

Pense, na pausa,

Mas diga, por deus!

- Tão fácil pedir,

Basta precisar.

Existe o seguir,

Se amigo içar.

Nos trôpegos passos,

Aqui, eu, maltrapilho.

Aparou, rendeu laços,

Qual pastor, o novilho.

O pão a mesma água,

Chão, e a mesma paz.

Qual um rio deságua,

Por você eu fui capaz.

Além assim me vou,

Sem trazer tristeza.

Pois Deus, aprovou,

Não se fere pureza.

Um bem sem embaraços,

É o que me sinto, por dever,

Velastes os meus traços,

Do mesmo Deus, seu prazer.

Mas deixo, o seu abrigo,

Para viver por novo, agora.

Isole-me, oh, meu amigo,

Sem tédio, só indo embora.

Peço, que esqueça,

Levo o meu segredo.

A história é avessa,

É tarde e mais medo.

- Que mal você fez?

Preciso, é claro, por certo, saber.

Já te guiei uma vez,

A amizade, é para nunca perder.

Não sinto o porquê,

Do segredo, retido,

Eu senti igual você,

Busquei um amigo.

- Triste, é muito triste,

Revelar, logo a você.

Por que você insiste?

Será penar será doer.

Foi fraco o meu coração,

Se abriu de vez, a fenda.

Meu amor, é sem razão,

O olhar ficou sem venda.

- Por quê pormenores,

Chega logo ao assunto.

Quais serão os fatores,

Que matam conjunto?

Se por anos, na labuta,

Lado a lado, sob o teto.

Fizemos a boa permuta,

No calor, de caro afeto.

- Amigo, eu me entrego,

É assim que você quer.

Por isso, aponho arrego,

Eu amo, a sua mulher.

Vou, não me castigue,

Impossível o mesmo céu.

Peço: não digas fique!

Não fui o seu amigo fiel.

- Surpresa eu não nego,

Chocado, é da verdade.

O Mesmo chão e o teto,

É quase uma saudade!

Entendo, e não o impeço,

A volta, já foi uma partida.

Esse drama, eu encabeço,

Sua ida não se vai perdida.

Aviso-lhe: Nem sempre,

O repouso, é polimento.

Vai medite e se lembre,

Amizade se faz assento.

Reflita essa vida,

Que não adula a sina em rusga.

Velo por sua ida,

Que dê paz, Amor e não a fuga.

Quase mudo, seguiria,

Certo. Pensou consigo.

Sem perceber, fugiria,

Mas lograria o amigo.

Espero-te aqui, e sossegado,

Qual a lua por sua noite.

Nunca ficarás sem norte,

Sou bússola do seu passado.

Eu direi, então, ao mundo,

Comovido por seu abrigo.

Olhem, este é meu amigo!

Foste fiel, jamais imundo,

- Amigo, um até breve,

Já entendo, saudades,

Vou buscar novidades,

Eu virei bem mais leve.