ARREBOL

A vida sem amigo seria um tédio.

Um prédio cheio de dinheiro não chegaria aos pés dos amigos fiéis.

Um prédio cheio de dinheiro não abraça nem alcança

o sentido real da esperança guardada no peito de um amigo.

Um amigo se entende na força do olhar, na mansidão do afeto,

no gesto singular de tudo: da ação, da ausência de formalidades,

da simplificação do complexo,

da decomposição do absurdo normalizado na rotina.

Nas bifurcações que a vida nos insere o amigo sugere a via mais objetiva,

mais plana e silenciosa de obstáculos,

mais densa na razão adjetiva de viver e, mesmo sem querer, naturaliza

o bem estar de cada coisa que há por perto.

Oxigena o ar impuro, nos agasalha, nos cobre do frio, alonga o lençol de

proteção no desafio generoso do calor humano,

estica o pano na carência do amor do cotidiano.

Ao rever um amigo no fio das horas que a vida nos empresta,

tudo se completa, nada falta, nem a fala é necessária,

o momento de outrora se teletransporta para o agora,

preenchendo a fresta na janela da saudade que havia,

na terna memória da fotografia.

Nas tardes ou nas manhãs o amigo é o arrebol de luzes belas,

a pintar a tela do viver.

Orlando Alves Ribeiro
Enviado por Orlando Alves Ribeiro em 21/07/2021
Código do texto: T7304599
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