Linha do Sol

Brumas épicas tocam minha alma,

não me impedem a visão,

em vez disso, revelam.

Uma amizade eterna, na simplicidade do início,

clara no hoje e até então profunda e misteriosa no ontem.

Meus caminhos não são ruas e sim os séculos,

a névoa me abraça, sou sua amiga também.

O tempo aceita, soberano e flexível.

Uma mística harmonia favorece essa união de eras.

A História, generosa, não se ofende com esta ousadia,

entende minha silenciosa curiosidade.

Apesar da certeza ainda busco mais respostas.

Lembranças se seguem a cada a um de meus passos,

antigos segredos descortinam-se diante da crescente claridade.

Enfim, estou novamente a seu lado,

no mundo que nunca abandonei por completo,

num cenário de extrema porém mansa luz,

envoltos no verde do simples e amado campo.

Ouço você me falar de um destino a seguir,

reflito, enquanto brinco com as rudes e suaves flores,

senhoras não de pétalas mas de plumas que ao mais sutil sopro seguem com o vento.

Milagres da natureza que não perecem, aventureiras que espalham vida por onde passam.

Como de costume, você se despede,

beijando a palma de minha mão,

sorrindo e prevendo que um dia eu conhecerei minha estrada,

assim como você conhece a sua.

Nosso amanhã se fez, em caminhos diferentes,

porém nunca opostos.

Contemplei suas conquistas,

vitórias pintadas em novas cores e lugares, eu,

segui entre letras e flores.

Chorei por sua estrada que antes tão reta e concreta

aos poucos se tornava um labirinto de vapor.

Tive nas mãos sua última carta

E no coração suas últimas palavras

“Amiga, lembre-se do que eu sempre lhe disse!”

Sim, recordei.

E obstinadamente prossegui,

em seu e meu nome

e entre primaveras e tempestades,

lutando e escrevendo,

cheguei no Presente.

Diante de meus olhos... Deslumbrante, uma nova terra!

Renascida, comemorei as pequenas janelas por onde passei e continuei sonhando.

Encorajada por você, entendi,

que retroceder não é desonroso,

permite descobrir oportunidades que abatida pela longa caminhada,

não havia reconhecido antes.

Comecei a não temer,

confiante, passei a aceitar as grandes portas que se abriam à minha passagem.

Em meio à felicidade te procurei e vi que se afastava,

não entendi, questionei:

“Por que partir novamente?”

Você apenas sorriu, então contemplei seu rosto,

as marcas de tristeza haviam se apagado de seu semblante,

dando lugar a um radiante ar de Mestre.

Mais uma vez, apenas beijou minha mão e partiu.

Dessa vez não tentei impedir, a paz reinava em mim,

finalmente compreendia!

Olhei minha mão e vi algo que antes não estava ali.

Seu mais precioso presente, legítima prova de que

verdadeiras amizades nunca se reencontram,

porque nunca se perdem.

No passado semeada, hoje floresce minha Linha do Sol,

destino iluminado por sua incansável Aurora Floreal.

* Aurora Floreal - Esse é um jogo de palavras que utilizei, misturando "Aurora Boreal" (Fenômeno da natureza) e "Floreal" (Mês do Calendário Revolucionário Francês, que vigorou de 22 de Setembro de 1792 à 31 de Dezembro de 1805. Floreal correspondia ao período das flores).

Ana Luiza Lettiere Correa
Enviado por Ana Luiza Lettiere Correa em 03/06/2021
Código do texto: T7270740
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