Laços de amizade e seus entraves

Tema: alguns laços e entraves da Amizade, observados pelo Autor.

Laços amigos e entraves inimigos.

Quanto à forma: texto de linguagem simples e algumas metafóras; hipotético, mas também contextualizado.

Conteúdo: alusões ao saber popular e filosófico; acrescentado de pequenas sugestões.

Contém 10 estrofes

A propósito*

Ó companheiro e amigo!

Tu, que tens brilho e fineza,

mostra o caminho que eu sigo

na falta de luz acesa!

*Apelo metafórico, às cegas.

Entre os laços e os entraves

1) Chamado preliminar*

Vamos tentar percorrer

alguns laços da Amizade?

"Amigo pela metade",

não convém ser e nem ter.

O certo é — posso crer:

bom, inteiro e fraternal.

Acho muito natural

um irmão e um amigo

terem — do berço ao jazigo —

mesmo plano espiritual.

* Ao público leitor, uma gota de introdução.

2) Essência psicofísica

Já disse René Descartes¹

que "a amizade é uma paixão".

Eu digo que um irmão

é um amigo que reparte².

Fazer amigo é uma arte

que poucos sabem tecer.

Aristóteles, a meu ver,

disse em palavras docentes

que são dois corpos, duas mentes,

no mesmo espírito, a viver.

¹ Considerada a pronùncia "dicarte".

² Como verbo intransitivo..

3) Apego e congratulação*

Ó meu estimado amigo!

Eu lhe agradeço por ser

um irmão que eu posso ter

com quem ando e não me intrigo.

Fui ontem, ao seu abrigo

cheio de hospitalidade.

Saudamos nossa amizade,

enquanto Você queria

que eu voltasse no outro dia

para matar a saudade.

* Contexto imaginário.

4) Estima e compadecimento*

Se for amigo estimado,

nem é preciso dizer

que ele é capaz de querer

o outro sempre ao seu lado.

Não há problema encrencado,

que não seja resolvido.

Se o outro estiver caído,

ele vai o levantar;

se for preciso ajudar,

é também compadecido.

* Suposição geral.

5) Gênios compatíveis ou não*

O jardineiro e a flor

só podem ter amizade

se a "compatibilidade"

tomar conta do odor.

Se incompatível for,

o seu jardim não floresce;

o amigo desaparece,

vai se embora e nunca mais

lembra os enlaces florais

que, na despedida, esquece.

* Hipótese metafórica.

6) Maçonaria e sua trilogia*

Exemplo de paz e afeto

é um maçom. Como irmão,

tem sentimento cristão,

é um companheiro completo.

Frequenta seu templo, um teto

de ordem com igualdade.

E sonha com a liberdade;

só não acha esse esteio,

que a Liberdade não veio

morar com a Humanidade.

* Alusão aos cânones maçônicos.

7) Mágoa e sofrimento

A mágoa pode abalar

a amizade velada,

pois a pessoa magoada

pode se modificar;

é arriscado ela acabar

com esse digno sentimento.

Porém, como o sofrimento

acompanha tal virtude*,

se sofrer, talvez não mude

gosto nem comportamento.

* Amizade.

8) Altivez e decoro

Caso um amigo se desgoste

e com o outro já não ande,

a afeição não se expande;

mas ele ainda se encosta,

mantém a classe ou se posta

em postura de elegância.

Decoro é uma instância

em que a Amizade mora

e cada amigo decora*

um retrato de importância.

* Pode ter três sentidos: ilustrar, memorizar e um neologismo, "decorar" (relativo ao decoro).

9) Dureza e exceção*

Eu erro quando não sou

afeito à conciliação:

não dou nem peço perdão;

deve e pague quem errou.

Só Jesus recomendou

indulto incondicional**.

Mas dou perdão fraternal

ao irmão e ao amigo

que já sofreram comigo

por causa de alguém mau.

* Enquadramento do Autor.

** "Perdoar setenta vezes sete."

10) Alerta final*

É preciso estar alerta

— em estado permanente —

ao que depõe ou atente

contra uma pessoa certa.

Deve ser a Mente* aberta

ao perdão e recomeço.

Pelo direito ou avesso,

não há moedas que paguem

o bem que os amigos traguem.

Amizade não tem preço.

* Um pingo de conclusão.

* Mentalidade humana.