O Gato
O gato andava perdido
Tão magro, feito um palito
Se era noite o gato corria,
Se era dia o gato dormia
Se via um rato, o gato comia
Ou de fome o gato morria
Sem nada comer, o gato só mia
Mais um pouco, o gato sumia
Vivia sozinho,
Na rua vivia
Fugia de gente,
De gente corria
O gato cotó andava vazio
Num mundo tão grande e frio
O Estranho andava tão só
E nem percebeu o gato cotó
E se encontraram numa rua qualquer
Os olhares cruzados, o miado
E vendo o bichinho assustado
O Estranho então sorriu
E vendo sorriso tão largo
O gato ficou ali, parado
E o certo seria correr...
Mas, curioso, pagou pra ver!
E viu o cara estranho,
Andando todo torto,
Como se o peso do mundo
Lhe curvasse o corpo
Curioso o gato ficou,
E chegou junto, desconfiado
E o cara estranho, ficou encantado
Naquela noite, o gato comeu
Encheu o bucho... cresceu!
E viu que talvez, o cara estranho
Não fosse de todo mau
E na solidão de um estranho
O gato encontrou companhia
E a cada dia o estranho sorria
Com as travessuras do gato,
Que mia...
Arranha os móveis, afia a unha
Pula na mesa, sobe na cama
Dorme na pia, o gato que mia
Queria sentir dó,
Olhando o gato cotó
Mas o gato nem ligava
Pra parte que lhe faltava
E o estranho solitário
Deixou o imaginário
Povoar o seu redor
E foi então que percebeu
Que não havia nada melhor
Que rir com o gato cotó
Mas não ria com deboche
Pois o gato e sua alegria
Preenchiam seu coração,
Não de saudade ou vazio,
Mas... de vida!
O estranho de coração partido
Em mil pedaços se via
E pra cada pedaço perdido
Um sorriso do gato... que ria!