LOBO DO CERRADO
Imagina comigo um cirurgião de árvores,
Onde ele sabe quantos glóbulos verdes tem a seiva.
Ou um pintor de tintas.
Que cada cor é renovada em seu pincel.
Pensa comigo,
Um índio de blazer gritando LIBERDADE.
Mas só de blazer. Por baixo ele tá nu.
Não teme sua intimidade.
E a publica.
Sabemos que Deus deu voz aos pássaros.
Agora criar um piado novo,
Saber a diferença do retinir de cada assovio.
E de piu em piu virar águia?
Quem é?
Quem meça olhares com réguas invisíveis,
Pode não decifrar,
Mas se falar, "ranca" uma lágrima do mesmo olho,
Que focou nele.
Numa simples folha de papel,
Coloca nosso duro coração,
E faz ele ficar igual a folha.
Sensível.
Fininho.
Mole mole.
Qual o segredo? Quem é esse aí?
O segredo dele é que ele come carne.
Carne humana.
Mas não é canibal não.
Ele se alimenta de vida humana.
A carne dos mínimos detalhes.
Aproveitando a gordura da existência,
Roendo o osso da aflição,
Sugando o tutano de cada fala, gesto ou silêncio.
E vai com coro e tudo.
Seus uivos diurnos encantam a natureza.
E os noturnos as virgens.
Musas.
E volta e meia uns catatau.
Os dentes afiados pelo amor pelas letras,
Garras como versos bem afiados. Muito bem "contadas".
As unhas que escreveram lindas crônicas,
Rasgam meu peito fácil fácil. Trazendo a emoção que estava nas entranhas.
Ou rasgam um sorriso que eu não tinha.
Descrevo mal pra burro.
Também né? Nunca vi Lobo escrever.
Mas ouça o uivo. Um uivo livre.
Só dele.
Tão nosso. Nesse cerrado.
Fácil é falar.
Fácil fácil.
Difícil mesmo é vira-lata imitar Lobo.
Que de tão experiente...
Sobrevive...
Em meio aos cães.
Mas que quando se erguer...
O Cerrado todo gritará:
"Vish! O matuto voltou!"
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Minha singela, pequena e bem fraca homenagem à um dos maiores recantistas que conheci.
Lobo do Cerrado.