Carta de súplica
houve época em que
teus raios de alegria
inundavam todos ao redor
houve época em que
tudo fluia bem
e não se pensava no pior
houve época em que
brilhavas tanto, tanto
e agora
todos se afogam no teu pranto
como a lua que a luz do sol empresta
para iluminar a noite escura e fria
buscando o consolo da alma funesta
agora vegetas em tua agonia
se entregas o teu corpo à dor
e a tua alma ao nada
nunca poderás sentir amor
pela pessoa amada
não é possível que um amor assim estime
com mínimas chances de concretizar
pois, por mais que dela se aproxime
longe, muito longe há de estar
se em tua vida há propostas
tratas logo de dizer não
do sofrimento acho que tu gostas
e de viver em obsessão
o homem não vive só de ideias
mas também de ações
e estás nu diante de plateias
que assistem suas frustrações
custo a crer que por baixo de tua face serena
serenidade a inspirar até sabedoria
como sofres por coisa tão pequena
comparado a esse mundo de covardia
faz-te escravo da paixão
de um sentimento puro e imaculado
mas não te esqueces da razão
que de longe o tem sondado
por favor, encare a realidade
e deixe de lado o quixotismo
em nome da nossa amizade
que, decerto, trilha o abismo
vais nas asas da imaginação
enamorado na utopia do pensar
com destino a destruição
que vem chegando, devagar
se achas exagero o que digo
rasga logo esta carta meu amigo
e finges que nunca me conheceu
mas saiba:
quase todo meu bem querer
por ti feneceu
mas se não achas
o aguardo em ávida esperança
e não lhe cobrarei taxas
por sua tão esperada mudança
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Nota: essa poesia foi originalmente escrita no ano de 1993 e venceu um concurso de poesias na época em que cursava o 1º colegial (EESG Padre Antônio Vieira - CEPAV - SP). Na ocasião da premiação, tive a honra em receber uma medalha de Ignácio de Loyola Brandão, que publica seus artigos em diversos veículos de comunicação, entre eles, no jornal "O Estado de S.Paulo", no qual trabalharia nove anos mais tarde. Escrevi essa poesia para um amigo muito debilitado física e emocionalmente por um amor impossível. Felizmente, ele se reabilitou, conheceu um novo amor e constituiu sua família. Enfim, a história teve um final feliz.
* Este texto faz parte de um conjunto de escritos resgatados e revisados, concebidos em outras épocas e, portanto, bastante distinto em sua estética e temática em relação aos textos atuais.