Amigos e sua arte

Amigo meu tem que ser artista.

Desculpem-me, senhores,

mas amigo meu tem que ser artista.

Os meus amigos sabem carregar pérolas

dentro de si.

Capturam a beleza nos pequenos,

libertam a pequeneza dos grandes.

Transformam flor em assunto,

assunto em viagem,

viagem em mundo.

Têm arte nos olhos,

moldam a vida

argilosa.

Ardilosa.

Têm dedos ágeis.

Amigo meu sente.

Fecha os olhos.

Transforma o corpo em canção.

Sente as notas musicais no ar

e suspirando organiza-as.

Pega palavras ao vento,

torna-as vivas.

Amigo meu pisa no palco.

Dá formas às cores no papel.

Desculpem, senhores,

não consigo fazer-lhes companhia.

Vocês não vivem arte.

Mergulham em tons de bege

e enfadonhos desertos.

Procurarei por meus amigos

fruta-cor.

Fosforescentes.

Meus amigos não são atores.

Nem pintores, nem dançarinos.

Eles não compõem nem esculpem.

Meus amigos não são rotuláveis,

explicáveis,

entendíveis.

São apenas artistas.

Têm o belo cravado na essência,

o poético enraizado no ser

e não escravizam lágrimas.

Alessandra Martins
Enviado por Alessandra Martins em 01/10/2007
Reeditado em 01/10/2007
Código do texto: T676425
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