Amigos e sua arte
Amigo meu tem que ser artista.
Desculpem-me, senhores,
mas amigo meu tem que ser artista.
Os meus amigos sabem carregar pérolas
dentro de si.
Capturam a beleza nos pequenos,
libertam a pequeneza dos grandes.
Transformam flor em assunto,
assunto em viagem,
viagem em mundo.
Têm arte nos olhos,
moldam a vida
argilosa.
Ardilosa.
Têm dedos ágeis.
Amigo meu sente.
Fecha os olhos.
Transforma o corpo em canção.
Sente as notas musicais no ar
e suspirando organiza-as.
Pega palavras ao vento,
torna-as vivas.
Amigo meu pisa no palco.
Dá formas às cores no papel.
Desculpem, senhores,
não consigo fazer-lhes companhia.
Vocês não vivem arte.
Mergulham em tons de bege
e enfadonhos desertos.
Procurarei por meus amigos
fruta-cor.
Fosforescentes.
Meus amigos não são atores.
Nem pintores, nem dançarinos.
Eles não compõem nem esculpem.
Meus amigos não são rotuláveis,
explicáveis,
entendíveis.
São apenas artistas.
Têm o belo cravado na essência,
o poético enraizado no ser
e não escravizam lágrimas.