ALMAS SABIÁS LARANJEIRAS
À luz de candeeiro
Leste obras literárias.
Lidaste o dia inteiro,
Ora triste, ora hilária.
Acendeste vela à santa,
Desfiaste o teu rosário,
Tricotaste nova manta,
Deste vida ao cenário.
E o amor ? Não, não vinha,
Havia os bolos na cozinha
E meias a serem cerzidas
E assim rolava a vida ...
Roubaram-te a infância -
Ainda acusada agir infante-
E a juventude, não a fragrância,
Pois esta manteve-se feito antes,
Tiraram-te a filha que adotara,
Deram-te velhice de tempestades,
Mas ao dar-te com minha cara,
Meu sorriso teu peito invade.
Porque nascera para teu arrimo,
Porque te entendera e te amara
E assim por anos nos sorrimos,
Alheios às tuas irmãs tão ignaras.
E nossas almas sabiás laranjeiras
Sabiam-se cantar na varanda da casa
Canções ora tristes, ora mais brejeiras,
Até o dia em que fez-te anjo e bateste as asas ...
Poema dedicado a Maria Nair Marcondes Cabral, tia Inaia, pelo 35° aniversário de sua morte.