NÃO SEI
Ao poeta José Matos
Não sei se trocaria
As brumas espumantes do Atlântico
Pelas tranquilas águas do Rio Paraguai;
O som e a fúria da brisa marinha
Pelo suave murmúrio das asas do tuiuiú.
Não sei se trocaria
O gingado das mulheres desnudas,
Em andar perspícuo de provocação;
Pela sensualidade feroz e cativante
Das garras afiadas de Juma Marruá.
Ao longe o horizonte anil
E o verde mar sugando das nuvens
O néctar e o segredo dos deuses,
Para enterrá-los nos sete mares
E guardá-los a sete chaves
Sob os olhos atentos de Poseidon.
O Pantanal
De pantaneiros e pantaleões,
Última morada de Adão e Eva
Antes de cederem à tentação
E provocarem a ira divina.
Como a chalana levando a dor
Ou os navios formando esquadras,
Nos quatro esquadros da Solidão
Dos tristes marinheiros embarcados,
Também navego em águas turvas
Da torrente do não saber se sei
Ou se não sei há muito definido
E esta cruel e vilanesca dúvida
Atormenta os meus parcos dias
E a tormenta das lágrimas
Afoga a minha alma devassa
Em um pantanal de angústia.
Maceió, 12 de abril de 2004.