- O Poeta que foi abandonado, esse cara sou eu!

 Abandonado pela sorte segue o velho viajante por caminhos muito conhecido, cansou-se de aventurar-se por novos caminhos. Ele agora quer sossego!

 Sente-se abandonado por quem tanto quis fazer que os dias fossem mais amenos, assim ele pensava. Cansou e agora tem certeza do abandono que está entregue.

 Tem tanta certeza de que já não existe mais nenhum encantamento nas suas palavras, elas partem na brisa do vento e some como se fora fumaça do cigarro do ébrio inútil.

 Havia atenção e ele sentia-se nas nuvens do viver feliz, nada mais restaram apenas lembranças um pouco vagas, sua memória já vem falhando. Pensa que disse e fica no ar achando que não disse e uma confusão é o que faz confuso.

 Passou por aquela praça de tantos sonhos e lembrou-se que sentado ficava a recitar Bocage:

“Desejo Amante”

Elmano, de teus mimos anelante,

Elmano em te admirar, meu bem, não erra;

Incomparáveis dons tua alma encerra,

Ornam mil perfeições o teu semblante:

 

Granjeias sem vontade a cada instante

Claros triunfos na amorosa guerra:

Tesouro que do Céu vieste à Terra,

Não precisas dos olhos de um amante.

 

Oh!, se eu pudesse, Amor, oh!, se eu pudesse

Cumprir meu gosto! Se em altar sublime

Os incensos de Jove a Lília desse!

 

Folgara o coração quanto se oprime;

E a Razão, que os excessos aborrece,

Notando a causa, revelara o crime.

 Com a sua voz um pouco rouca já não fazia vibrar quem antes prestava atenção e admirava todos os seus textos, já não fazem vibrar nenhum coração. Só o seu cão de guarda e companheiro constante levanta o focinho do chão e lança um olhar de tristeza. Os pássaros que se alegravam com a sua chegada nem querem mais comer do seu alimento, levam as formigas para a sua rainha.

 Assim é a vida do poeta que tantos sonhos tinham para uma aventura amorosa que nunca se realizou e parece que com o fim da ilusão o mundo desmoronou-se em tudo e por tudo.

Não consegue que ouçam ou leiam o que do seu coração ainda consegue arrancar com trancos e barrancos, por que será?

 Aquela que um dia foi sua companheira de longa travessia e de tantas conversas ao pé do ouvido deixou-o com um rancor tão constrangedor que até a vontade de telefonar ele já faz tempo que perdeu todo o interesse, guarda a sua foto tirada de um Facebook distraído, fica horas admirando a sua pança e pensando que seria de muito descanso. Será que ela ainda dá no couro? Não quer saber a resposta, já nada mais nada sente por aquele corpo velho que tanto desejou. Tem dono!

 E assim de dia em dia caminha para o abismo que é a vida, um passo no falso o levará para o destino já há muito tempo desejado e incontestável fim.

 Só uma coisa o aborrece e tenta fazer uma reflexão dos porquês que aconteceram, todo errado não encontra resposta, sempre fica à pensar que não teve nenhuma culpa e dá de ombros e exclama ao poste de luz, dane-se o mundo eu me conforme, pois,  eu já nem sei se na vida fiz bem ou se fiz mal, deixo rolar a dúvida, mas, só uma coisa ele não queria para si, pois, ainda tem tantos desejos de lançar ao vento é terminar o seu estágio nessa vida e ficar relegado no fundo do baú como um ser abandonado...

Já não sei !

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LAURO PAIXÃO
Enviado por LAURO PAIXÃO em 07/02/2019
Código do texto: T6569015
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