As mãos
A mesma mão que embala o berço
É a mão
Que o pode largar
A mão que pinta um quadro
Que para a eternidade vai ficar
A mão
Que tem o dedo
Que pode carregar no botão vermelho
No botão nuclear
A mesma mão que te afaga o rosto
É aquela
Que te pode sufocar
A mão que se despede de ti
Esperando que um dia possas voltar
A mão
Que te fecha a porta na cara
Porque já não te consegue suportar
A mão que acende uma vela
Para as trevas de ti afastar
É a mesma
Que com um archote
Deita fogo ao teu mundo
E a tudo o que podes representar
Mãos que amam
Mãos que odeiam
Mãos que criam o sublime
Ou que criam o caos
Mãos que constroem
Mãos que destroem
São estas as nossas mãos
As mãos da humanidade
Mãos que limpam uma lágrima
As mesmas mãos
Capazes da maior das crueldades
As mãos
O espelho perfeito do que somos
Mãos o nosso melhor instrumento
Que demoraram milhões de anos a aperfeiçoar
Mãos capazes do maior dos males
Mas foram elas que permitiram o velho sonho concretizar:
Das cavernas partirmos para o espaço
E dali para o que falta conhecer do Universo
Mãos que podem ferir
Mas também amar
Na forma deste poema
No corpo dos seus versos…