Novo Poema
Decidi escrever um
Novo Poema
Por nenhuma razão especial
Estou bem comigo
Nada de íntimo tenho para contar
E no mundo
Nada de extraordinário
Que mereça por mim ser referido
Se passa na situação internacional
Quanto ao mundo em si
Ele
Ele continua a rodar
Sem reparar
Naquilo que de mal lhe andam a fazer
Os seus mais chatos inquilinos
Nós
A quem a sua parte de fora
Ele decidiu alugar
Quanto a mim
Não estou especialmente aborrecido
Com nada
Que mereça o espaço
Desta página
Mas uma coisa
Me está a chatear
-Das coisas que mais odeio
Destaco uma:
O vazio
A ausência quer de sons
Indistintos
De sons mais concretos
As palavras
E ao olhar para o começo destas linhas
Vi isso
Nesta página
Vi um branco
Que urgia ser preenchido
Depois
Só depois a tranquilidade iria regressar
Só depois do vazio
Com palavras ocupar
Sim
Eu sei
É absurdo
Ocupar vazios
Com palavras
Onde nada tenho para dizer
Mas quem assim pensa
Está a dar um erro crasso
De comunicação:
Porque as palavras
Dizem sempre algo
As palavras
Quando os humanos as aprenderam a usar
Abriram uma estrada
Para o futuro
Que os fez andar mais depressa
Uma estrada
Que continuam a usar
Uma estrada
Na qual entrei hoje
Para anunciar
De “forma artística”
No corpo de um poema
Que estou aqui
E que apesar de as palavras
Escritas
Andar menos a usar
As palavras
Irei sempre utilizar
Para preencher vazios
Até ao dia
Que a tinta delas
A alma
Por fim secar…