Novo Poema

Decidi escrever um

Novo Poema

Por nenhuma razão especial

Estou bem comigo

Nada de íntimo tenho para contar

E no mundo

Nada de extraordinário

Que mereça por mim ser referido

Se passa na situação internacional

Quanto ao mundo em si

Ele

Ele continua a rodar

Sem reparar

Naquilo que de mal lhe andam a fazer

Os seus mais chatos inquilinos

Nós

A quem a sua parte de fora

Ele decidiu alugar

Quanto a mim

Não estou especialmente aborrecido

Com nada

Que mereça o espaço

Desta página

Mas uma coisa

Me está a chatear

-Das coisas que mais odeio

Destaco uma:

O vazio

A ausência quer de sons

Indistintos

De sons mais concretos

As palavras

E ao olhar para o começo destas linhas

Vi isso

Nesta página

Vi um branco

Que urgia ser preenchido

Depois

Só depois a tranquilidade iria regressar

Só depois do vazio

Com palavras ocupar

Sim

Eu sei

É absurdo

Ocupar vazios

Com palavras

Onde nada tenho para dizer

Mas quem assim pensa

Está a dar um erro crasso

De comunicação:

Porque as palavras

Dizem sempre algo

As palavras

Quando os humanos as aprenderam a usar

Abriram uma estrada

Para o futuro

Que os fez andar mais depressa

Uma estrada

Que continuam a usar

Uma estrada

Na qual entrei hoje

Para anunciar

De “forma artística”

No corpo de um poema

Que estou aqui

E que apesar de as palavras

Escritas

Andar menos a usar

As palavras

Irei sempre utilizar

Para preencher vazios

Até ao dia

Que a tinta delas

A alma

Por fim secar…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 07/06/2018
Reeditado em 07/06/2018
Código do texto: T6358068
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