Reencontro

Colcha de retalhos em infindável execução,

Escolho tecidos, estampas, texturas e linhas,

Vou segregando, testando, alinhavando e cosendo,

Ora desfaço os pontos, ora aperto a costura, desafia-me;

De vez em quando, como poeta que escolheu mal as palavras,

Percebo o pano esgarçar-se, a falta de combinação dos materiais;

Lanço-me em busca de remendos que estanque a sangria do desfazimento,

Amizade desconstruída, fragilizada por ausência de anteparos e mal-entendidos,

E, em meio a tristeza do perdimento, tento arranjos e consertos;

O tecido não responde, posto que compungido, torturado,

Tanto ou mais que eu em minha sublime ignorância, maculado

Já não consigo juntar o pano e a obra não anda, espera em agonia.

A esperança da continuidade surge de surpresa num título: “Saudades”!

"Devoro" o texto com euforia, minha alforria e minha rendição,

O reencontro com o tecido que pensei ter perdido para sempre,

Recompõe o manto em retalhos, infindável, peculiar, como você e eu!