Na bainha do mundo
A mãe reparou que, no varal, as roupas da filha menor eram muito mais sacudidas pelo vento.
Um olhar para o quintal e dava pra perceber as peças
sacolejando
além
da
conta.
Hoje,
é na
cadência
do teu corpo
que elas
dançam.
S
O
L
T
A S e floridas,
ao sabor da tu' alma;
dona do mundo.
Um possível gosto do tecido
desperta olhos famintos.
E eles devoram,
voraz e ternamente,
cada nervura do teu franzido.
Quem assiste,
espera pra ver teu vestido soprando nos cílios do tempo,
porque é assim que ele fecha os olhos e se demora.
Ele dorme,
curvado ao som
e à leveza dos teus pés; plumas aéreas e lunares.
E nós, espectadores,
despertamos taciturnos.
Tocamo-nos sublimados,
e não nos damos conta
das dores a i h v d s
l n a a a
em cada bainha.
Só por esta noite
sua alma nos sobeja e
atravessamos ,de mãos dadas, a concretude do mundo.