NOVELOS

Amizade é maré:

ora baixa, ora mexida,

mas os pés na areia viva

necessitam refrescar.

Então exigimos que ondas

sempre claras e festivas,

nos ensopem de saliva

até o amor transbordar.

Por hora nos esquecemos

desse decreto nefasto

que reza que "todo o pasto

que é demais deve sobrar".

Pisando em ouriços, vamos,

desprezando a singeleza,

delineando a grandeza

que visamos contemplar.

Mas é tolice esperar

que essa água coagida

seja tão fresca e festiva

quanto a do espontâneo mar.

Criar expectativas

sobre tal comportamento,

é tecer, no firmamento,

sol em noite de luar.

(…)

Amizade é maré:

ora baixa, ora mexida,

porém os laços da vida

necessitam do enlaçar.

E exigem nossos novelos,

que o pobre barbante tente

circundar o corpo quente

sem o mesmo machucar.

Por um minuto esquecemos

que, mesmo dessa corrente

trabalhada e resistente,

ainda se pode escapar.

Pisando em espinhos, vamos,

sangrando em busca de afago,

transformando o mar em lago,

com medo de se afogar.

(…)

Amizade é maré.

É escassez e fartura.

E é na hora da secura

que ela vem nos inundar.

Cassio Calazans
Enviado por Cassio Calazans em 20/02/2018
Código do texto: T6258903
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