Natal na Terra
Estamos
No coração da fera
Estamos na merda
Estamos em guerra
Natal na Terra
Estamos em silêncio
Ninguém tem coragem de disparar
E ainda menos de falar
Só desejamos uma coisa
Impossível de alcançar:
Casa
Tão longe ela está
Que nem os nossos sonhos são capazes de lhe tocar
Mas de repente
Em vez de cair (mais) uma bomba
Cai sobre nós
Uma bola
Com uma mensagem engraçada:
- Venham jogar
Armas de fora
Assim como a vontade de ganhar
Venham connosco
Apenas Festejar
E assim fomos
Crentes
Ateus
Homens sem fé
Homens de todas as religiões
Assim fomos
Jogando não apenas a bola
Mas as nossas mais belas emoções
E o jogo
Esse
Durou uma eternidade
(porque por vezes o tempo se estende
Muito para além da realidade
O tempo é maior do que a física nos diz
Quando um homem disso tem vontade)
Uma eternidade interrompida
Não por uma qualquer divindade
Mas por um Marechal
Que sonhava não com a paz
Não com a casa
Mas apenas por medalhas
Que apenas com sangue
E não com futebol
Seriam ganhas
Tendo por isso ordenado
Que a bola
Fosse substituída por granadas
E assim
O jogo acabou
Não no seu minuto final
Mas no minuto mortal
E os homens
Os homens deixaram de serem homens
Para voltarem a serem feras
E sabe Deus
Como eu odeio ter que contar este tipo de merdas
Sejam pois
Bem-vindos às trevas:
Natal na Terra
Baseado em factos reais, tanto no meu tempo de tropa como em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%A9gua_de_Natal