Natal na Terra

Estamos

No coração da fera

Estamos na merda

Estamos em guerra

Natal na Terra

Estamos em silêncio

Ninguém tem coragem de disparar

E ainda menos de falar

Só desejamos uma coisa

Impossível de alcançar:

Casa

Tão longe ela está

Que nem os nossos sonhos são capazes de lhe tocar

Mas de repente

Em vez de cair (mais) uma bomba

Cai sobre nós

Uma bola

Com uma mensagem engraçada:

- Venham jogar

Armas de fora

Assim como a vontade de ganhar

Venham connosco

Apenas Festejar

E assim fomos

Crentes

Ateus

Homens sem fé

Homens de todas as religiões

Assim fomos

Jogando não apenas a bola

Mas as nossas mais belas emoções

E o jogo

Esse

Durou uma eternidade

(porque por vezes o tempo se estende

Muito para além da realidade

O tempo é maior do que a física nos diz

Quando um homem disso tem vontade)

Uma eternidade interrompida

Não por uma qualquer divindade

Mas por um Marechal

Que sonhava não com a paz

Não com a casa

Mas apenas por medalhas

Que apenas com sangue

E não com futebol

Seriam ganhas

Tendo por isso ordenado

Que a bola

Fosse substituída por granadas

E assim

O jogo acabou

Não no seu minuto final

Mas no minuto mortal

E os homens

Os homens deixaram de serem homens

Para voltarem a serem feras

E sabe Deus

Como eu odeio ter que contar este tipo de merdas

Sejam pois

Bem-vindos às trevas:

Natal na Terra

Baseado em factos reais, tanto no meu tempo de tropa como em:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Tr%C3%A9gua_de_Natal

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 25/12/2017
Código do texto: T6207791
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